Nova estrela do emagrecimento, tirzepatida não faz milagre sozinha

Especialista esclarece que composto, que tem se popularizado como combatente ao
emagrecimento, carece de mudança na rotina para trazer algum efeito
Se você circula minimamente por rodas de conversa em academias, grupos de WhatsApp ou
clínicas de estética, é bem provável que já tenha ouvido falar dela, a tirzepatida. O nome pode
parecer complexo, mas o efeito é simples. Segundo muita gente, ela “seca”. E essa fama fez
com que o medicamento se tornasse um dos assuntos mais comentados entre pessoas que
buscam resultados rápidos no emagrecimento.
Contudo, a dúvida é se a substância é mesmo a solução definitiva para a perda de peso? De
acordo com o médico gastroenterologista Mauro Jácome, diretor da Clínica Cronos e também
cirurgião geral, a resposta é clara e bastante objetiva: não.
“Primeiro que remédio não faz milagre. É bom que todos saibam disso. Entretanto, a tirzepatida
tem sim uma ação poderosa no controle do apetite e no metabolismo da glicose, mas não é
uma fórmula mágica. É um medicamento, e como qualquer outro, precisa ser utilizado dentro
de um plano terapêutico individualizado”, afirma o especialista.
Na prática, a tirzepatida atua de forma semelhante a outros análogos de GLP-1, hormônios que
regulam a saciedade. Seu uso foi inicialmente indicado para tratamento do diabetes tipo 2, mas
os efeitos sobre o emagrecimento chamaram a atenção do público e da indústria. O problema é
quando esse fármaco, que tem potencial, é tratado como se fosse um “acelerador de dieta”, o
que não é.
“É fundamental que o paciente passe por uma avaliação clínica completa. A tirzepatida pode
ser útil, mas deve vir acompanhada de uma mudança real de estilo de vida. Isso inclui
acompanhamento nutricional, suporte psicológico e introdução de atividades físicas regulares.
Caso contrário, os resultados tendem a ser passageiros e até perigosos”, salienta o médico.
Outro ponto importante é a crescente automedicação. Muitos pacientes chegam ao consultório
já com o nome do medicamento na ponta da língua e, em alguns casos, até com o frasco em
mãos. O risco disso é alto. Além dos efeitos colaterais possíveis, como náuseas, constipação,
alterações na glicemia, o uso sem prescrição pode mascarar outros problemas de saúde.
E aqui está o ponto central da conversa. “O emagrecimento sustentável não é feito só com
remédio. O uso da tirzepatida pode sim ser um recurso terapêutico eficaz, especialmente em
casos de obesidade ou síndrome metabólica, mas precisa estar dentro de um plano de
cuidados mais amplo. Não estamos falando de um suplemento. É um medicamento com efeitos
sistêmicos, que precisa ser respeitado. O mais importante é entender que o processo de
emagrecer envolve mais do que apenas perder peso. Envolve saúde, mente e rotina”, completa
Mauro Jácome.
A boa notícia é que cada vez mais clínicas especializadas têm abordado o emagrecimento de
forma integrada. A má notícia? Ainda tem muita gente buscando atalhos. Se esse for o caso,
vale repensar sobre que o corpo precisa mais de cuidado do que de pressa.